sexta-feira, 23 de abril de 2010

Crítica da MAri Messias

Publicado em

http://marimessias.wordpress.com

Homem que não vive da glória do passado

There’s always some post-modernist twist, you bitch!

Gogol Bordello

Uns anos atrás eu voltei pra casa MALUCA com a possível confirmação de que todas as interações humanas fossem encenadas. Sim, eu sou uma ingênua. Isso surgiu de uma conversa com minha então professora de Literatura Oral, Tettamanzy, e me arrebatou pq coincidiu com o que veio a ser só o começo de uma graaaande maconha minha sobre quem somos, como somos percebidos socialmente e os nuances ficcionais de todos os relacionamentos humanos.

Como eu tenho um amigo queridíssimo do meu coração que estava fazendo mestrado “em performance”, fui implorar uns conselhos. E, como sempre, ficamos horas pirando o cabeção mutuamente. Mas neste dia ele me falou de um negócio que chama twice-behaved behavior, que falaria da repetição de comportamento, ie, um comportamento que nunca aconteceria pela primeira vez. Logo, ele seria encenado, nunca espontâneo, sacou? E isso seria arte, performance. Mas isso também é vida, concluiu o sujeito lá do negócio que fui ler depois que meu amigo me falou isso. Ou ainda, ouso dizer, isso é mais vida que arte, como acabamos notando se vemos uma peça de teatro duas vezes ou pensamos nos shows do Monk ou em qualquer show que valha a pena.

Claro, pra essas coisas não serem só um amontoado de WTFs, chegamos no que o Cummings chamou de ser “obsessed by Making”. Que estou para conhecer alguém que seja bom em qualquer coisa [incluindo na vida] e não passe por issae. Mas, né, também disse o supracitado: “This may sound easy. It isn’t.”

Pra mim, as boas obras de arte ao vivo são aquelas que não se fazem sempre exatamente iguais, pra isso temos CDs e filmes. Ao vivo alguns de nós esperam mais. Ao menos da arte, já que normalmente não esperamos mais da vida, que deprê, né?

Não nos sentimos nem um pouco babacas ir nos mesmos lugares, semana após semana, ouvindo as mesmas coisas, falando as mesmas coisas, simulando a mesma novidade. Pelo contrário, sentimos um certo conforto nisso. E deve ser por este mesmo motivo que alguns de nós ainda ficam desconfortáveis quando o guitarrista não faz o solo que sabem inteiro e planejaram toda a semana reproduzir [com a boca].

E é por não sermos exatamente iguais que nem todos concordamos que este seja o papel da arte na nossa vida. Nem da auto-reprodução perfeita, nem da linearidade, nem da previsibilidade, nem do afago, nem da seriedade sorumbática e aristotélica. Não que eu não ame o Arista, queridão. Mas, né, tumba do canône é tão 90s, amigo.

Sobre isso, disse ali o Kafka:

“Se o livro que estamos lendo não nos acordar com uma pancada na cabeça, para que o estamos lendo? Precisamos de livros que nos afetem como um desastre, que nos angustiem profundamente, como a morte de alguém que amamos mais do que a nós mesmos, como ser banidos para florestas distantes de todos, como um suicídio. Um livro tem que ser o machado para o mar congelado dentro de nós.”

Então eu decidi escrever isto voltando de uma viagem, lendo Eagleton falar sobre o fim do desespero diante da noção de que a vida não tem significado intrínseco, nem linearidade, que é o que vivem os pós-moderninhos. E o que ele diz me pareceu bastante claramente a síntese da angústia de alguns dos espectadores diante da última peça da Cia Espaço em Branco, que dá nome ao post, Homem que não vive da glória do passado. E que é a peça deles que eu mais gostei, claro, que sou anti-pop-alerta.

Então, como me ensinou meu amigo João Ricardo, a vida imita a performance, mas onde o ego é substituído pelo Making. E aí, bom, não curtir é só um dos resultados possíveis. E tentarei não julgar ninguém por isso, claro:

Postmodernism, by contrast, is not really old enough to recall a time when there was truth, meaning, and reality, and treats such fond delusions with the brusque impatience of youth. There is no point in pining for dephts that never existed. The fact that they seem to have vanished does not mean that life is superficial, since you can only have surfaces if you have dephts to contrast with them. The Meaning of meanings is not a firm foundation but an oppressive illusion. To live without the need for such guarantees is to be free. You can argue that there were indeed once grand narratives (Marxism, for example) which corresponded to something real, but that we are well rid of them; or you can insist that these narratives were nothing but a chimera all along, so that there was never anything to be lost. Either the world is no longer story-shapped or it never was in the first place.

4 Respostas para “Homem que não vive da glória do passado”

  1. Tu anda numas ondas de “sou Kafka e fumo maconha com Calderon de la Barca”, PQP.

  2. cara, EU NÃO. quem anda nessas umas pra cima de mim é tu. VAZARE.

  3. agradecido pela leitura. reflexiones.

    (porque se o show ao vivo (que eu também prefiro) é mais vida (porque erros e improvs), e por isso desestabiliza, “tira “a pessoa” “do lugar” — então, e por isso, não é arte?)

    (GOTO 10)

  4. acho que nossas viagens conflitaram, tiago. hahahaha
    eu acho que a idéia é que tanto vida quanto arte trabalham com a repetição e a improvisação. em menor e maior grau, dependendo do teu ponto de vista. ou da tua escolha. ou.
    ahn

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Vanglorie-se: