segunda-feira, 2 de novembro de 2009
Estas imagens e estes poemas têm uma conexão escondida
Caesar Abraham Vallejo nasceu em 16 de Março de 1892, em Santiago de Chuco, Perú.
"Toda a vida de Vallejo é um esforço para conquistar, na própria escritura de cada poema, este alfabeto competente ou linguagem adequada: uma linguagem adequada à obscuridade da intuição, à visão das trevas não pode ser senão obscura. O poeta desce à noite e toda a noite deve ser dita no poema, o poema deve mostrá-la; ele a viu, a tocou, e pede que o escutem “em bloco”:
e se vi, que me escutem pois, em bloco,
se toquei esta mecânica, que vejam
lentamente,
aos poucos, vorazmente, minhas trevas.
(De Panteão - César Vallejo)
(Américo Ferrari: Introdução a César Vallejo:
Obra Poética Completa)
BARRO NU (Os Arautos Negros)
Erguem-se visagens fúnebres do lábio
como batráquios terríveis na atmosfera.
Pelo Saara azul da Substância
caminha um verso cinza, um dromedário
Fosforesce um esgar de pesadelos cruéis.
E o cego que morreu repleto de vozes
de neve. Madrugar o poeta, o nômade,
é um dia áspero para ser homem.
As Horas seguem febris e abortam
nos ângulos rubros séculos de ventura.
Quem corta o fio, quem desfaz
impiedosamente os nervos,
cordéis já gastos, na tumba?
Amor! E tu também. Pedras gastas
se delineiam na tua máscara que se rasga
Contudo, a tumba é
um sexo de mulher que conquista o homem!
(Trad. Jorge Henrique Bastos)
POEMA PARA SER LIDO E CANTADO
Sei que há uma pessoa
que, dia e noite, me busca em sua mão,
encontrando-me, a cada minuto, em seu calçado.
Ignora que a noite está enterrada
atrás da cozinha com esporas?
Sei que há uma pessoa composta de minhas partes,
que eu completo sempre que o meu vulto
cavalga sua exacta pedrazinha.
Ignora que ao seu cofre
não voltará nenhuma moeda que saiu com seu retrato?
Sei o dia,
mas o sol escapou-me;
sei o ato universal que fez na cama
com alheia coragem e essa água morna, cuja
superficial frequência é uma mina.
Tão pequena é, acaso, essa pessoa
que até seus próprios pés assim a pisam?
Um gato é a fronteira entre mim e ela,
mesmo ao lado de sua malga de água.
Vejo-a pelas esquinas, abre e fecha
sua veste, antes palmeira interrogante...
que poderá fazer senão mudar de pranto?
Mas ela me busca, me busca. É uma história!
_________________
Poemas extraídos da edição:
"Antologia Poética de César Vallejo -
seleção, tradução prólogo e notas, José Bento,
ed. Relógio D'Água, Lisboa, 1992"
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