sexta-feira, 23 de abril de 2010

Email Enviado pela atriz, pesquisadora e amiga MArina MEndo

Marina Mendo

para mim


oi querido,
dei uma passadinha no Câmara ontem p/ abraçar a Sissi e acabei entrando pra te ver. saí engasgada e inquieta precisando te agradecer porque o teu trabalho, o trabalho da cia é muitíssiíssimo estimulante, me desperta na punheta das minhas morais mais secretas, na beleza das minhas verdades ordinárias, estas que ignoro por parecerem tão triviais e "insuficientes" diante da perspectiva do SUCESSO para o qual fomos educados crescendo solitários diante da tv ligada, confortados pelo toque de um botãozinho do controle remoto. nossa geração 80 "gostoso é viver, seja atraente, rico e fuck everybody! não ouse tanto, mas ouse porque ser qualquer um não tá com nada" converte a nossa subjetividade em medo, nossa confiança em pavor, nossa ingenuidade em fracasso. Eis que saio das "glórias do passado" completamente esfuziante com vontade de me declarar a uma pessoa por quem sou apaixonada há quase um ano, com vontade de acordar hoje e ir pra rua em exposição, dar um grito criativo, "tocar terror" ; )
senti falta do Márcio Garcia ele é tão gostoso ;) gostava da aparição dele em cena, dava mais luz à cartilha televisiva e seus modelos de bom comportamento e aparência.
dpois o "Homem" tem tantas camadas, tu tá " verborrágico" mas em mim chega como primeiro plano a televisão, a relação homem-tv, a televisão educadora, professora, seus marionetes de microfone em punho sendo papys and mommys ou amiguinha Xuxa de um mundaréu de gente, saca... essa tristeza é minha, também a vivi em primeira pessoa. ainda bem que o teatro nos deseduca depois. ufa! adoro o texto do Mr Jesus queridao nao morre por mim nao!!! como tu é corajoso cara! tem sangue mesmo aí em frente a esse computador, sobre estes livros.
e contrastante com toda a perversidade o final do Homem é a sobremesa sem excesso de açúcar maravilhosa, vejo João-menino, um (devir-criança), com os seus brinquedinhos, transformando a sala de casa em cenário, organizando os apáticos personagens ficionais, trazendo "luz" para o seu pequeno mundo, nele se protegendo, dele se alimentando, na sua invenção mamando e com ela acabando quando quiser. porque é tua. é evidente, e toca a minha. e, tá, sem mais muito palavreado que não dá conta de toda sensação. em síntese ( como se fosse possível!) é a tua vida em agonia, qdo penso no ator autor de um ato sacrificial de Grotowski, na minha compreensão é um sacrifício e exorcismo com esta qualidade que tu propoes... termino em agonia. empurro os óculos pra cima, ajustados aos olhos, a arte é sim um ato pessoal, micropolítico, é prazer e perversidade de quem faz, é um convite a um acontecimento, os convidados vêm, recebem sensação do teu mundo, decodificam algumas, se encomodam com outras, não aprovam todos os sabores do cardápio, é claro porque nem todos comem carne, nem todos comem anchovas, nem todos gostam de frutas secas ; ) e ao final vão embora. pronto, acabou.
" Paixão afecto necessário para que a produção mesmo sem sentido afirme desejos e traga prazer, superando, sem isencao as dores inevitáveis de qualquer entrega" definição de paixão de Paola Zordan, minha teacher no seminário avançado Humores artísticos: arquivos e análises.

Marina Mendo

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